O Presidente da Petrobras, Pedro Parente, pediu demissão nesta sexta-feira dia 01/06/18
O presidente da Petrobras, Pedro Parente, pediu demissão na manhã desta sexta-feira (1) em caráter “irrevogável”.
Parente ficou exatamente dois anos à frente da Petrobras, já que tomou posse no dia 1 de junho de 2016.
De acordo com um comunicado da estatal, enviado ao mercado, a nomeação de um conselheiro DELEGADO interino será examinada ao longo do dia pelo Conselho de Administração. Além disso, de acordo com o comunicado, a direção executiva da companhia não sofrerá qualquer alteração.
Em uma carta enviada ao presidente Michel Temer, com quem se reuniu na manhã desta sexta-feira, Parente diz que a greve dos caminhoneiros e de “suas graves consequências para a vida do país” deu pé a um debate de “intenso e às vezes emocional” sobre as origens da crise.
E que a política de preços da Petrobras adotada durante sua gestão foi colocada sob “questionamento”. Ele, no entanto, diz que “os resultados obtidos demonstram o acerto do conjunto das medidas que adotamos, que vão muito para além da política de preços”.
A política de preços dos combustíveis da Petrobras foi um dos principais objetivos dos caminhoneiros durante a paralisação da categoria nos últimos dias. Parente disse em mais de uma ocasião que não mexeria nos preços e, com isso, se viu pressionado e sofreu um grande desgaste no comando da estatal.
“Tenho refletido muito sobre tudo o que aconteceu. É claro, senhor presidente, que as novas discussões serão necessárias”, diz Parente na carta.
“Diante deste quadro fica claro que a minha permanência na presidência da Petrobras deixou de ser positiva e de contribuir para a construção de alternativas que o governo tem pela frente”, complementa.
Leia a carta de demissão enviada por Parente ao presidente Michel Temer:
Excelentíssimo Senhor Presidente da República,
Quando Vossa Excelência me estendeu o honroso convite para ser presidente da Petrobras, conversamos longamente sobre a minha visão de como poderia trabalhar para recuperar a empresa, que passava por sérias dificuldades, sem aportes de capital do Tesouro, que na ocasião se falava ser indispensável e da ordem de dezenas de bilhões de reais. Vossa Excelência completamente de acordo com a minha visão e me concedeu a autonomia necessária para levar a cabo tão difícil missão.
Durante o período em que fui presidente da empresa, contei com o apoio integral de seu Conselho. A trajetória da Petrobras nesse período foi acompanhada de perto pela imprensa, a opinião pública, e por seus investidores e acionistas. Os resultados obtidos revelam o acerto do conjunto das medidas que adotamos, que vão muito para além da política de preços.
Faço um julgamento sereno do meu desempenho, e eu me sinto autorizado a dizer que o que prometi, foi oferecido, graças ao trabalho abnegado de uma equipe de executivos, administradores e o apoio de uma grande parte da força de trabalho da empresa, sempre, repito, com o decidido apoio de seu Conselho.
A Petrobras é hoje uma empresa com reputação recuperada, indicadores de segurança, em linha com as melhores empresas do setor, os resultados financeiros muito positivos, como demonstrou o último resultado publicado, a dívida em franca trajetória de redução e de um plano estratégico que tem se mostrado capaz de fazer a empresa investir de forma responsável e sustentável, gerando empregos e riqueza para o nosso país.
E tudo isso sem nenhum aporte de capital do Tesouro Nacional, de acordo com a nossa conversa. Me parece, assim, que as bases de uma trajetória virtuosa para a Petrobras estão publicadas.
A greve dos caminhoneiros e suas graves consequências para a vida do País iniciaram um intenso e, às vezes, emocional debate sobre as origens desta crise, e puseram-se à política de preços da Petrobras sob intenso questionamento. Poucos podem ver que ela reflete os choques que atingiram a economia mundial, com seus efeitos no País.
Movimentos na cotação do petróleo e do câmbio elevaram os preços dos derivados, magnificaram as distorções da tributação no setor e levaram o governo a buscar alternativas para a solução da greve, estabelecendo a concessão de subvenção ao consumo de diesel.
Tenho refletido muito sobre tudo o que aconteceu. É claro, senhor Presidente, que as novas discussões serão necessárias. E, diante deste quadro fica claro que a minha permanência na presidência da Petrobras deixou de ser positiva e de contribuir para a construção de alternativas que o governo tem pela frente. Sempre tentei mostrar, em minha trajetória na vida pública que, acima de tudo, o meu compromisso é com o bem público. Eu não tenho nenhum apego aos cargos ou posições e não serei um obstáculo para que essas alternativas sejam discutidas.
Sendo assim, por meio desta carta, lhes apresento a minha demissão do cargo de Presidente da Petrobras, em caráter irrevogável. Coloco-me à sua disposição para fazer a transição para o período necessário para aquele que vier a mim me substituir.
Vossa Excelência tem sido impecável na visão da gestão profissional da Petrobras. Permita-me, senhor Presidente, para registrar a minha sugestão de que, para continuar com essa histórica contribuição para a empresa — que foi nesse período gerida, sem nenhum tipo de interferência política — Vossa Excelência se apoie as regras corporativas, que tanto foram aperfeiçoadas nestes dois anos, e a contribuição do Conselho de Administração para a eleição do novo presidente da Petrobras.
A poucos brasileiros se dá a honra de presidir a Petrobras. Eu tenho plena consciência disso, e estou muito grato aos que, por um período de dois anos, essa honra única que me foi conferida por Vossa Excelência.
Quero, finalmente, registrar meu agradecimento ao Conselho de Administração, aos meus colegas da Diretoria Executiva, à minha equipa de apoio direto, os demais administradores da empresa e toda a força de trabalho que fazem a Petrobras ser a grande empresa que é orgulho de todos os brasileiros.
Respeitosamente,
Pedro Parente